Por que a ISO 9001 não é a solução mágica para pequenas e médias empresas

Implementar a ISO 9001 parece, à primeira vista, um caminho óbvio para quem quer trazer mais organização e qualidade para sua empresa. Afinal, quem não quer o famoso selo de qualidade, certo? Mas, na prática, a história não é tão simples assim. Como alguém que tem trabalhado com gestão 360 e liderança forte, vou te explicar por que a ISO 9001 pode ser uma verdadeira cilada para pequenas e médias empresas — especialmente aquelas que ainda não dominaram o básico da gestão.

1. O Conto do Vigário da ISO 9001

Antes de mais nada, é importante dizer: a ISO 9001 não é para todo mundo. Ela pode fazer sentido para empresas que já têm uma estrutura madura e clientes exigindo a certificação. Mas, para pequenas e médias empresas que ainda estão engatinhando no quesito gestão, a implementação pode trazer mais problemas do que soluções.

Infelizmente, vejo cada vez mais empresas caindo no “conto do vigário” — gastando com consultorias para implementar a ISO sem nem ao menos entender o que é gestão 360 ou como desenvolver uma liderança forte. Resultado? Um time desgastado, alta rotatividade e até perda de clientes.

2. Cortando o Mato Alto Antes de Colocar as Pedrinhas no Jardim

Aqui vai uma analogia simples: imagine que sua empresa é como um jardim. Antes de colocar as pedrinhas bonitinhas e decorar com flores, você precisa cortar o mato alto e organizar o espaço. Se você tenta pular essa etapa e vai direto para a decoração, o caos se instala rapidamente.

Na prática, implementar a ISO 9001 sem ter uma base sólida de gestão é como tentar decorar um jardim sem cortar o mato. Você pode até conseguir o selo de qualidade, mas ele vai esconder uma série de problemas estruturais que vão continuar minando a performance da sua equipe.

3. Os Principais Problemas que Acompanham a ISO 9001 em Empresas Imaturas

Implementar a ISO 9001 sem a estrutura certa é um verdadeiro tiro no pé, e aqui estão alguns dos problemas mais comuns que identifiquei ao longo dos anos:

• Desgaste do time: Exigir que uma equipe que ainda não entende de gestão 360 siga os padrões da ISO 9001 é pedir para desgastar o time. Os colaboradores acabam se sentindo sobrecarregados com processos rígidos que eles ainda não dominam.
• Alta rotatividade (turnover): Funcionários sobrecarregados e desmotivados tendem a buscar novas oportunidades, resultando em um turnover elevado.
• Perda de clientes: Quando o foco da empresa se torna a implementação de processos complexos que não trazem valor imediato ao cliente, o risco de perder negócios é grande.

4. Níveis de Maturidade de Gestão: Onde a ISO Realmente Faz Sentido?

Se você tem acompanhado meus conteúdos sobre maturidade de gestão, sabe que defendo a ideia de que cada empresa precisa progredir em estágios. E adivinha em qual estágio faz sentido implementar a ISO 9001? No nível 4 – Excelência. Isso porque nesse nível, sua empresa já cortou o mato, já passou por todas as fases de ajustes e melhorias, e agora está pronta para “colocar as pedrinhas no jardim”.

Nos níveis anteriores, o foco deve estar em gestão eficiente, liderança forte e alinhamento de processos. Só depois de dominar esses elementos é que faz sentido pensar em certificações como a ISO 9001.

5. O Que Fazer Antes de Pensar na ISO 9001

Então, por onde começar se não pela ISO? Aqui estão alguns passos práticos para quem quer construir uma base sólida antes de pensar em certificações:

• Fortalecer a liderança: Sem uma liderança forte, a implementação de qualquer sistema vai ser um caos. O primeiro passo é garantir que os líderes da sua empresa estejam preparados para guiar a equipe em momentos de mudanças e melhorias.
• Desenvolver uma gestão 360: A gestão 360 garante que todos os processos estão alinhados e que a empresa como um todo está em sincronia. Isso inclui desde a parte operacional até o acompanhamento de KPIs estratégicos.
• Investir no engajamento do time: Antes de adicionar mais processos e regras, é importante garantir que o time esteja engajado e motivado. Equipes desmotivadas simplesmente não vão aderir a mudanças complexas como a ISO.

6. Minha Experiência com Certificações: Quando a ISO Fazia Sentido

Eu já estive em uma situação em que a ISO era necessária, mas as condições eram muito diferentes. Trabalhei na agroindústria, atuando na controladoria, e participei da implementação da ISO em uma de suas unidades. Posteriormente, na indústria de suínos, tivemos que lidar com várias certificações. A diferença? Estávamos falando de uma empresa com faturamento de 7 bilhões ao ano e mais de 3500 colaboradores. Nesse cenário, as certificações eram exigidas pelos nossos clientes e faziam parte da estratégia global da empresa.

Mas, veja bem, estávamos lidando com uma organização madura, com processos extremamente bem definidos e uma equipe preparada para seguir as normas de certificação. Para uma empresa desse porte, a ISO 9001 fazia sentido — estávamos no nível 5 de maturidade.

7. Conclusão: Primeiro a Base, Depois o Selo

A ISO 9001 pode até ser vista como um símbolo de excelência, mas a verdade é que ela só faz sentido quando a empresa já atingiu um nível elevado de maturidade. Implementá-la antes de ter uma base sólida de gestão eficiente e liderança forte é como tentar decorar um jardim sem antes limpá-lo.

O caminho para o sucesso de pequenas e médias empresas não está em seguir modismos ou adotar processos que não são adequados para o momento atual do negócio. O verdadeiro segredo está em governar para crescer: resolvendo primeiro o essencial, fortalecendo a liderança e organizando a casa.

Então, antes de se apressar para conquistar o selo de qualidade, pergunte-se: minha empresa está pronta? Se a resposta for não, o foco deve ser em construir essa base. E, quando chegar a hora de pensar em certificações, você estará pronto para isso — mas até lá, governe com sabedoria, fortaleça sua gestão e, acima de tudo, cuide bem do seu jardim.